Paços de Ferreira a capital do móvel, é por estes dias a 3.ª cidade do país. Lisboa e Porto as primeiras. Uma, a capital do imóvel, a outra, a capital da fruta. Lisboa faz jus ao epíteto com tanto e bom edifício para empregar e habitar uma quarta parte de Portugal. Vale que os níveis de cimento regressaram aos tempos poupadinhos de antes do 25 de Abril, mas não a tempo de evitar muita tonelada de paredes sem alma por falta de ocupação. A fruta do Porto é da boa e rende bons juros, “vocês sabem do que eu estou a falar”. Mas nem só dela vivem as suas gentes, o seu espírito, são o sumo, a sua vida.
Em Paços de Ferreira, a estrela do
futebol chama-se Vitor. Sim, Vitor. Só Vitor. Se fosse nas capitais maiores, o
Vitor era outro. Não o mais conhecido. Seria o Vitor da Silva, Emanuel ou
Emanuel Cruz. Algo mais comercial e dado exposições mediáticas. Talvez por isso
não tenha vindo para Lisboa. Ou para um bairro de Lisboa, como diriam os da
fruta. É como o Joãozinho de Aveiro que andou uns 15 dias a pensar no nome que
deveria ter na sua nova camisola verde e branca. João, João Carlos, João Graça.
Acabou por manter o Joãozinho e no 2.º jogo fez uma gracinha, marcou um autogolo
com as costas, a preocupação com o nome era justificada, quem sabe se com
outras letras a bola não batia de forma diferente e não seguia para fora, em
vez de para a baliza do Patrício (este nome é dos que não engana, está
destinado).
Joga lá também o Caetano. Este já usa só
o sobrenome, tem a carreira pensada para altos voos. Se fosse pelo nome próprio
era apenas o Rui. Rui há muitos e o maestro ainda é o Costa. Este será mais um
Barros. Meia leca, jovem, português e vice-campeão do mundo. Teve nos pés a
bola que o podia ter feito campeão em vez de vice. Apesar disso, de todos os
vices, será o único que não caiu no esquecimento, como caíram os outros que se
estabeleceram em cidades melhores, maiores e com mais oportunidades. Mais
competitivas, concorrentes, injustas e viradas para os jovens. Estrangeiros.
Brasileiros, hispânicos sul-americanos, africanos ou europeus. Que não lusos.
O treinador é o Paulo. Fonseca. O estádio,
o da Mata Real, que não será maior que o do Cova da Piedade. Pequeno e nada
dado a megalomanias cimenteiras das capitais. Quem por lá passar até poderá ver
as camisolas amarelas a secar nas cordas presas, quem
sabe, em móveis em fim de carreira. Pode até já nem ser assim, mas pouco tempo
terá passado em que o era. Dificilmente chegarão a jogar nos grandes estádios
da Europa. É melhor assim.