domingo, 25 de março de 2012

TCC - Transpraia da Costa da Caparica

Soube-se na semana que passou que o Governo abandonou definitivamente o TGV.



Mas quê em andamento? A alta velocidade, isso é capaz de aleijar! Assim de repente, sair de comboios em andamento, só me lembro do comboio da Costa, o TCC. Se o Governo tivesse abandonado o TCC, doía menos.
Quer dizer, mesmo no TCC é preciso tomar precauções. Um gajo sem destreza, até pode ficar preso nos apoios laterias dos braços, por uma perna e ir de rojo pela areia até à próxima praia. Menos grave mas também comum e igualmente aborrecido, nestes saltos do Transpraia, é dar cabo de uma unhaca do pé, que aquilo é feito de ferro maciço, à boa moda antiga. Provoca dores e causa arrelias por causa da areia. E eu sei do que estou a falar, já tiveram alguma intervenção cirúrgica na unha grande do pé? Eu já, posso dizer que dói e não é nada giro ir para a praia com uma meia de licra preta. Um salto mal calculado pode ainda dar azo a uma aterragem forçada e bastante incomodativa em cima daquelas plantas com picos, que eu não sei agora o nome, parecem aspirantes a catos do deserto, de aspecto frágil e inofensivo, mas que picam bem! O que vale é que nem tudo é mau na ciência do abandono de comboios em andamento, em particular do Transpraia.
Um mergulho bem sincronizado naquela areia, que é bem fina e fofa, é quase como mergulhar na água. É capaz de arranhar um bocadinho mais, mas não há bela sem senão. Belas dunas, as da Costa! Uma vez… Alto! O texto é sobre sequências de carruagens inanimadas encaixadas e como sair delas a relativa velocidade. Nada mais.

Um TGV em Portugal seria quase como colocar um Alfa Pendular descapotável a fazer a linha das praias da Costa. Tem tudo para dar errado. Primeiro, não dava jeito nenhum para atravessar a linha a pé. Está um gajo carregado com chapéu de sol, toalha, protetor, cadeirinha, balde e pá, lancheira e jornal da Bola. Pára, escuta e quando olha… VUUMMM… passa o comboio e vai tudo pelo ar. Depois, não há espaço para a aceleração, quando chegasse aos 150 à hora tinha que começar a travar para não cair no Cabo Espichel. Mesmo que lhe fosse feito um tunning, com aileron, cabos eléctricos de fibra ótica e varetas em alumínio e, fizesse 10 segundos dos 0 aos 100, tomávamos um banho de areia sempre que passasse e, se quiséssemos ficar na praia da Riviera por causa das gajas, só parávamos na da Raínha. Tínhamos que levar com os putos e uma toillete de mouro empoeirado a cuspir areia que arruína qualquer tentativa de engate. Seria necessário investir também em tunning de travagem, com discos de alumínimo platinado, mas aí o orçamento poderia começar a resvalar e o chumbo no Tribunal de Contas seria quase garantido. A mim não me faz falta, eu fico logo na praia da Mata, é boa para os putos e chega-se rápido (mais ou menos, em dias bons) de… carro.

Portanto, isto do TGV, não é para nós. É de louvar este abandono do Governo, pois abandonos a alta velocidade, como já vimos, é bastante perigoso.

Seja como for, já se fazem ouvir as vozes discordantes. O TGV foi abandonado, mas parece que vinha carregadinho de dinheiro. Um vagão ou mais, cheios de notas de euro que seguiu caminho. Pelo menos foi o que um autarca de Elvas já veio apregoar. Sem TGV, o Governo já pode fazer uso do dinheiro, diz ele. Eu por acaso não sabia que as notas já cá estavam. Devem ter vindo pela UPS e a julgar pelas indeminizações que se falam é bem capaz de ser verdade. Agora, isto vindo de um autarca é que não lembra a ninguém, só a ele mesmo. Um autarca, é bem capaz de ir a passear alegremente num corredor da sua Câmara predileta, tropeçar numa carpete de Arraiolos, gentil e despretenciosamente oferecida por um industrial local, cair e desaparecer numa cratera financeira não sinalizada. E sabemos como é difícil sair delas, são piores que buracos negros. Sugam e sugam como se não houvesse amanhã. Eu compreendo que até convém lembrar aos políticos, que são seres com amnésia e se esquecem facilmente, que os subsídios são um dia para repor, mas um timing destes, sei lá, é quase como um autarca vir falar em dinheiro, poucos dias depois de se terem descoberto mais dívidas em autarquias e empresas municipais. Já li isto em algum lado, mas não me recordo onde…

Ok, não vou bater mais nos autarcas. Parece que o Governo prefere investir em linhas de transporte de mercadorias para ligar os portos de Aveiro e Sines à Europa e até mesmo a Espanha, como forma de dinamizar as exportações. Que ideia mais estapafúrdia, estarão os autarcas de Aveiro e Sines a pensar. Não tarda virão dizer: “nós queríamos era um Transpraia para levar as pessoas e os veraneantes a passear pelas  praias. A Caparica tem um desde o milénio passado e nós que temos praias melhores e mais lindas, andamos há anos a pedir, e nada! É o lóbi da capital! Vamos ver como fica o ranking das 7 maravilhas das praias de Portugal e depois falamos”.

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