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Original
De volta à rota, o caminho segue pela
nacional, fora dos rápidos itinerários principais (IP6) e autoestradas (A8),
que o tempo é de passeio e admiração, destino ao Buddha Eden, Quinta dos Loridos,
Bombarral. Pela nacional N241, não a principal, mas a secundária a N241-1, para
maior ruralidade. Seguem-se quase duas dezenas de quilómetros pelo planalto das
Cesaredas. Separação entre o pujante oceano e o sereno campo de cultivo. Dele
se avistam ambos, num cenário de rara beleza. É ir devagar e espreitar à
direita e à esquerda. As cores são do azul acinzentado do céu e do mar,
ofuscado ao longe pelos raios de sol, do verde da vegetação baixa de breves
canaviais, oliveiras e vinhas atarracadas, do castanho forte da terra
esventrada por socalcos e carreiros de cultivo bem delineados e de dimensão
média pequena. O ligeiro cheiro a estrume misturado e disfarçado pelo verde das
couves e outras hortaliças, temperadas em crescimento pelo ar salgado e húmido
da maresia. O dia é de descanso e passeio, não para quem trabalha e colhe ou
lavra a terra com o trator. O branco de casas e moinhos, os antigos e os
modernos de pás gigantes para aproveitamento da energia, a alternativa eólica.
Gigantes no jardim dos budas, são algumas
estátuas e estatuetas, de cimento bruto em formato oriental com pequenos e
raros laivos de cor quente da terra. Conjunto de resultado estranho, num
devaneio ou capricho milionário do comendador Berardo, louvado, apesar de tudo,
pelo objetivo cultural do espaço. A extensão será a ideal, não justificando a
opção do comboio, a não ser pelas crianças, sempre apreciadoras desta aventura.
Longe de exuberante, visita bem justificada pela agradabilidade do espaço a céu
aberto.
Aberto o apetite, como sempre se ouve
dizer, pelos ares do campo, tempo então de almoçar. Logo ao lado, de carro, perto
do Santuário Senhor Jesus do Carvalhal onde prevalece o sossego e pacatez, o
Lagar. Restaurante pequeno, pitoresco e cuidado. Ementa nada exuberante, dentro
do normal tradicional da cozinha portuguesa. Vai ser um polvo à lagareiro e um arroz
de pato. Antes, para entrada, presunto e uma grossa fatia de queijo. De entre
uma garrafeira publicitada como das maiores da península, não a de Peniche, a
Ibérica mesmo, que vinho? Só um momento. Orientação preciosa e concisa do
anfitrião. Da região, Dão ou Alentejo? Região. Aberto ou encorpado? Aberto. Sai,
um Quinta de S. Francisco de Óbidos. Bem escorrega com a refeição! O polvo
servido em pequenos pedaços tenros, numa travessa metálica com azeite quente e
alho, rodeado por batatas a murro. Simples e muito bom. O arroz de pato, desfiado,
tostado, com finas rodelas de morcela e outros enchidos num arroz árabe, colorido
pelo amarelo do açafrão sarapintado de passas. Para sobremesa? Duas! Um gelado
caseiro de três sabores num só, mas em camadas distintas, regado com chocolate
quente, e, o especial do Lagar, uma generosa taça de doce de maçã reineta escondido
pela cobertura de suspiro. De suspirar! Não se dava nada por ele, tal o aspeto
discreto, mas revelou-se uma combinação perfeita para a
sensação de final apoteótico. Último golo, que vinho deste não se desperdiça e
café se faz favor.
De barriga e alma mais do que cheia,
satisfeita, o regresso faz-se pela rota que mais convier ou apetecer, pelo
caminho inverso de volta à praia ou ao hotel para um mergulho na piscina
interior, para Óbidos e uma ginja ou mesmo para casa que Lisboa é logo ali. A
oeste, apenas mais uma das muitas rotas deste pequeno, mas adorável país.