A solidariedade só se consegue praticar verdadeiramente
quando é sentida. E a esta selecção é difícil sentir. É feita de elites. As que
sentem a crise de maneira diferente, ou não a sentem de todo. O que apesar de
tudo, não deixa de ser estranho. Muitos estamos, conhecemos directamente alguém
que está ou corre o risco de vir a estar desempregado. Os tempos mudaram é
impossível estar indiferente e fingir que nada se passa. E é isso, ou
praticamente, que tem sido feito. Indiferença perante a grave situação económica
e social em que Portugal se encontra. Indiferença dos protagonistas por o permitirem e
dos que fazem por mostrar. Durante as últimas semanas, diariamente e com
relativa frequência horária, somos invadidos com o relato dos últimos minutos
deste ou daquele envolvido na selecção. Seja ele jogador, treinador, médico,
dirigente, fotógrafo, cozinheiro ou motorista.
Eu quero é futebol! Técnica, táctica, golos! Se quisesse um
Big Brother via a TVI!
Segundo a FPF é tudo legal: o culto da selecção deve ser
alimentado; tem autonomia financeira e toda a despesa é suportada pelo prémio
de participação atribuído pela UEFA; os jogadores ostentam o que têm, fruto do
seu árduo trabalho, descontam e até vão entregar em Portugal os impostos dos
prémios dos objectivos que atinjam no campeonato. Segundo eu e o Manel: à federação
nenhum contribuinte cobrará; aos jogadores ninguém lhes tira o enorme mérito
por terem chegado onde estão; aos media ninguém acusará de não ter mostrado o
suficiente. Segundo, eu, o Manel e outros Zés, Marias e Antónios, nada disto
tem a ver com o Portugal real e actual, qualquer atitude solidária teria mais
valor do que uns milhares de euros de receita de imposto ou de despesa não
realizada.
Não será por isto que deixarei de apoiar e torcer pela
selecção. Não acho é que, por mais discursos moralizadores que se façam, apelos
ao brio, união e demonstração do espírito lusitano, por mais que se queira, ou
se invente mediaticamente que se quer, não será por estarmos na pior crise das
últimas décadas que vamos ter o melhor resultado de sempre no campeonato da
europa. Nem sequer coloco em causa o valor individual e colectivo desta
selecção, se o que conseguirem, bom ou mau, seja obtido com o esforço digno da
posição que ocupam e da camisola que envergam. Nem eles deveriam responder por
mais. Se fosse pela via da pressão da crise, nem sequer valeria a pena competir,
entregava-se o título à Grécia e poupavam-se uns milhões. Repito, não que
fossem significativos, mas pelo que essa atitude transmitiria.
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