Não sou seu amigo, nem jornalista mas, por acaso, já era meu conhecido mesmo antes de ser ministro. Ouvi-o pela primeira vez na “Prova Oral”, na Antena 3, convidado por Fernando Alvim para uma hora de amena cavaqueira, durante a apresentação do seu novo livro: “Portugal na Hora da Verdade”. Foi há pouco menos de um ano, ainda ele não sabia que ia ser ministro (digo eu), ainda cá tínhamos o Sócrates, mas o FMI já estava a caminho. O seu livro apresentava-se acessível para os leigos e curiosos da Economia, actual e de interesse geral devido a toda a conjuntura de crise instalada, em larga expansão e sem fim à vista. Logo me pareceu ser um gajo porreiro, com o seu quê de emigrante (ou não fosse o seu ligeiro sotaque - sem menosprezo) e bastante idiota (no bom sentido, pois apresentou uma série de ideias para melhorar Portugal).
Álvaro, o académico, ministro da economia que se deixou apanhar pelas garras da política. Desde os primeiros momentos da sua governação que me questionei: sobreviverá e conseguirá libertar-se sem grandes danos?
Sinceramente, tenho grandes dúvidas, mas também quero acreditar que pode conseguir fazer e trazer algo de novo para o estado moribundo deste nosso país. E quero acreditar, porque se não acreditarmos que pode haver alguém capaz, se não acreditarmos que cada um de nós é capaz, então estaremos condenados. E mesmo não sabendo o que é uma sentença deste tipo, pois tive a sorte de até agora viver na prosperidade, aí acredito, sem grandes dúvidas que iremos sofrer e muito, como até agora não sofremos. Talvez os nossos avós e pais tenham vivido algo parecido, mas nunca neste sentido. O sentido foi sempre o da melhoria, do crescimento e do progresso. Agora poderá ser ao contrário. É caso para dizer, algo de novo e nunca antes visto, mas que não tem grande piada (nenhuma mesmo).
Já acreditei mais que o Álvaro teria os dias contados no Governo, pois só passados sete meses apareceu. E que aparecimento! É verdade que o Gaspar (ou Vitor, mas Vitor há muitos e este, pelas entrevistas que vi, não dá confiança como o Álvaro, portanto, mais vale tratá-lo pelo apelido, afinal é ele que manda nas finanças), puxou para ele todas as atenções, não só pela força das necessidades e das medidas extremamente violentas que anunciou, mas também pelo seu estilo: amorfo mas letal. Ao contrário, o Álvaro apareceu sempre amorfo, abatido e inconsequente. Não admira que tenha sido considerado o ministro mais impopular. O Gaspar pelo menos é mau (não me refiro à sua competência pois não tenho capacidade para o julgar, mas sim às medidas), mas toda a gente o conhece. O Álvaro, andava a fazer trabalho de bastidores, a fazer contactos, a arrumar a casa, dizia-se. Enquanto o fez, eu que já tinha ficado curioso quanto ao livro que apresentou descontraidamente na rádio, comprei-o, impulsionado pela sua nomeação para a pasta da Economia, e li-o.
Há pouco dias ouvi falar no pastel de nata. Na exportação do pastel de nata. Então mas é isto? Não podemos fazer mais nada? Mesmo que seja na área da culinária? É verdade que a ideia não se resume ao pastel, alarga-se ao conceito, mas o que vem a seguir? A Flórida da Europa, o turismo rural, a produção e a agricultura nacional. Está lá tudo no livro, é verdade, mas não me parece nada de muito consistente e consequente. Já aquando da apresentação do novo Orçamento de Estado anunciou-se “apenas” uma meia hora de trabalho adicional para o aumento da competitividade e esta nem sequer estava no livro. Desilusão. Eis senão quando… Bum! Aí está o acordo de concertação social! (seja lá o que isso for, mas como agora a Economia está na moda, qualquer curioso como eu vai fazendo um esforço para perceber este ou aquele assunto). O acordo de concertação social, resumidamente não será mais do que o resultado de uma negociação entre as várias partes interessadas, onde se tenta, não o melhor, mas o melhor possível para todos (em especial para o Governo, óbvio). Afinal, com maioria, o Governo podia chegar e fazer. Mas não ficava bem e teria que lidar com instabilidade social. Quanto ao acordo, para além das medidas para melhorar a competitividade dos nossos produtos (e das exportações), ao que parece e tal como está escrito no livro, bem ou mal, Portugal era dos países do mundo onde era mais difícil despedir. Quase impossível mesmo. Agora, bem ou mal, passamos a ser um dos países onde é mais fácil fazê-lo.
A verdade é que esta é uma medida séria! Uma das tais medidas estruturais que tanto se fala, mas nunca se fazem, ou quando se fazem, são uma espécie de. Tal como tinha dito, bem ou mal poucos saberão o que trará a medida. O futuro ninguém prevê. Dizem que será muito mau a curto prazo, mas pode ser bom a médio e longo prazo. Ao que parece, agora não há desculpa para os gestores. Ou são bons e obtém resultados, ou são maus e vão-se aproveitar. Mais uma vez tem-se a tendência para comparar com os países (mais) desenvolvidos, maioritariamente nórdicos, onde isto resulta, pois as pessoas são frias e sérias. Ora, nós nunca seremos pessoas frias, vivemos num país quente. Somos quentes, latinos. O sol dá-nos cabo do juízo. Se pegassem em Portugal e o colocassem na Escandinávia se calhar a coisa funcionava. Como isso não é possível, temos que mudar a maneira de pensar. A mudança é gigantesca e demora dezenas de anos. Serão precisas gerações para mudar mentalidades, para nos deixarmos de “chico-espertices”. Mas uma coisa não há dúvida, sérios, podemos ser sempre, faça chuva ou faça sol. Ninguém vive bem com a ideia de ser facilmente despedido, este acordo é perigoso e tem que ser acompanhado por muitas outras medidas, noutras áreas. Nada se faz isoladamente. E esse deveria ser o próximo desafio.
É caso para dizer, o Álvaro mostrou-se e até está a conseguir fazer o que queria. Diz que vai ficar na história por mudar Portugal… para melhor. Um país onde quer que os seus filhos cresçam, tal como muitos de nós. Vamos acreditar e esperar que se concretize o que um outro político disse: “ainda vão gritar Hosana ao ministro da Economia”.
PS: entretanto o Aníbal decidiu puxar para ele todo o protagonismo, mas da pior forma (burra mesmo). Não sei se não será estratégia, quando menos se esperar, aparece outra vez o Álvaro.
Publicado no facebook, Domingo, 22 de Janeiro de 2012 às 18:50
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