Não, não é nenhum título de uma nova produção de Hollywood. Mas podia. Podia se fosse uma daquelas produções baratas, com efeitos especiais que se compram em pacotes nos saldos da internet. Para quem não sabe do que eu estou a falar sugiro “Mega-Piranhas” ou “Mega-Tubarão vs Crocossauro”. Eu vi (mas só um bocadinho) no Syfy. Não sendo de Hollywood podia muito bem ser um filme alternativo, de realização franco-germânica com colaboração lusa, daqueles que no fim dizem: baseado em factos verídicos e com especial agradecimento ao povo português…
Sócrates é um alegre estudante de filosofia. Vive em Paris e vai de bicicleta para o curso. Não sem antes, aconchegar o seu pescoço com um cachecol vermelho-rosa. Leva na lancheira meia dúzia de pasteis de nata comprados na pastelaria do Silveira e do Boitiaux, “Comme à Lisbonne”. Afinal sempre alguém seguiu o conselho do Álvaro. “Eu soube sempre do poder do pastel de nata. Um pastel de nata bem feito encanta portugueses e estrangeiros. As pessoas provam e ficam logo com um sorriso na cara” diz o Silveira ao jornal de negócios (http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=531755).
Sócrates goza do estatuto de “auditeur libre” do Instituto de Estudos Políticos de Paris e por isso não foi aos exames do primeiro semestre. Apesar dos seus antecedentes que tudo apontam no sentido da balda e do facilitismo universitário, a verdadeira razão não é essa: Sócrates aproveita o tempo que iria perder nos exames e na chatice que é estudar para os preparar e vai para a praia! Sim existe praia em Paris. Só que é fluvial, nas margens do rio Sena. Longe de querer ir ao banho, Sócrates vai pensar, meditar e concentrar-se no seu projecto pessoal. Um projecto que consolida nos seus mais profundos pensamentos durante as aulas de filosofia: “O Euro-Escudo”.
Paralelamente Merkel e Sarkozy assumem também um papel principal. Idealizam, também, um novo projecto: um escudo contra asteróides para proteger a Europa (http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=2257263).
As cenas sucedem-se sobre estas duas personagens:
a União Europeia vai desenvolver um sistema de protecção contra asteróides em colaboração com russos e americanos. Enquanto isso o euro continua à mercê dos ataques das agências de ratings. A União Europeia vai investir na criação de uma defesa contra objectos vindos do espaço. Enquanto isso os gráficos mostram que a economia europeia assiste retraída e deprimida ao crescimento económico dos países asiáticos. Países esses que nos vão conquistando através da dívida que não sabemos controlar. A União Europeia vai defender-se através de um euro-escudo contra lixo do universo, enquanto isso, uns atrás dos outros, os países membros caminham para serem considerados lixo financeiro. Os pedregulhos celestes são uma ameaça, os povos vão-se ameaçando com calhaus, bastões e cajados. O povo defende-se como pode, sem armas, vai remexendo à procura de um escudo, nos bolsos… um escudo que apenas se vislumbra em forma de moeda. Há quem já tenha feito regressar a moeda antiga em negócios que, fruto da reengenharia mental dos seus proprietários, passaram a aceitar o escudo e a peseta para fazer pagamentos. Um marketing com prazo de validade (curto).
Para Sócrates, o simples regresso ao escudo não tem qualquer glória, nem inovação. Uma moeda diferente sempre disfarça qualquer embaraço e não deixa de ser uma coisa nova, uma invenção, algo mais filosófico, para a História: o euro-escudo. A grande estrutura do euro-escudo foi deixada por ele em Portugal. Mas ele não foi o único contribuinte. Num flashback vê-se o Aníbal as lançar as bases, o Guterres, o Durão, o Santana, e os seus opositores a trabalharem arduamente. Alguns percebendo no que se estavam a meter decidiram emigrar. Mas Sócrates, não desistiu, foi até onde pode e até onde não pode (ou não devia) e por não poder mais, foi para França à procura de apoio e paz mental (quem sabe para um regresso). Agora percebe-se que não foi um simples adeus mas sim uma necessidade. A necessidade de não deixar morrer uma ideia e concretizar um projecto. Retomar o que o seu arqui-inimigo obrigou a abandonar. Passos Coelho, um novato com o super-poder da austeridade. Com ela manuseia o défice, tenta vencer os poderes especulativos dos seres dos mercados e manter-se no euro. Com o escudo do FMI, sem crescimento económico, com desemprego recorde e sem PIB para suportar a dívida e os credores. Repudia a ideia de negociar com eles a hibernação dos créditos e creditar o acordar da economia. O euro não deixa, mas também não oferece defesas, nunca foram pensadas! E assim, vai avançando para a autodestruição.
A trama é complexa e enredo entrelaçado. Vivia-se com um escudo fraquinho, veio um euro forte e agora perfila-se um euro-escudo que não será nem carne, nem peixe (literalmente). Dois aliás, um que é uma protecção e outro uma moeda que deixa o povo português completamente desprotegido.
Merkel e Sarkozy tentam desviar atenções com o seu euro-escudo. Não lhes interessa defender o verdadeiro euro, ou não sabem como fazê-lo. Fazem que não sabem, mas sabem, só que não querem dizer que a euro-escudo moeda vai ganhando força e aproxima-se cada vez mais da realidade. Outras potenciais moedas vão também emergindo como a euro-drakma, a euro-peseta ou a euro-lira (mas estas não dão para fazer trocadilhos). E tal como se vê um economista dizer, a questão não está na Grécia, mas sim em Portugal. Uma ovelha negra ainda se tolera, mas quando são duas o caso fica mais sério. Dois países que se unem, como que se aliam, na desgraça, com um Sócrates filósofo outrora grego, mas agora português.
Como já foi visto, Sócrates não foi o único impulsionador do seu projecto, foi o último grande obreiro. Agora na filosofia, tenta através da ciência do pensamento encontrar uma razão de futuro, já que não parece haver ciência exacta que nos dê um rumo.
O euro teve função enquanto serviu. Agora é disfuncional, principalmente sem escudo… contra “asteróides”. Comicamente ridículo, com intensidade catastrófica e apelo à emoção. Quem não chorou no Armagedon?
publicado no facebook, Terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012 às 0:49
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