sábado, 10 de março de 2012

Baby don't you want to go

Uma passagem de Blues entoada ao melhor estilo pelo, não menos estiloso, presidente dos Estados Unidos da América, Mr. Barack Obama. Aproveitou um concerto intimista na Casa Branca para se lamentar de não poder fazer coisas tão simples, como sair à noite apenas para passear a pé ou dar uma volta de carro por aí, para espairecer. Em compensação, continuou, pode ter em sua casa o Mick Jagger e o B.B. King para um serão de Blues! Um estilo musical que, ainda segundo ele, é uma das bandas sonoras do estado actual de dificuldade do mundo e do seu país. Cânticos e canções de trabalho que no seu tempo lutavam subtilmente contra a escravidão.

Inevitável não imaginar o Cavaco de olhos cerrados e pose fadista, no salão de festas do palácio de S. Bento… (guitarra portuguesa) pimpim, pirilipimpim, pimpim, pirilimpim, pimpim, pirilipimpim… “ai a minha reforma coitadinha, nem chega para as despesas, uns milhares de euritos daqui, outros de acolá, um jantar de miudezas, para mais não dá”, pimpim... Palmas (a ver se se cala)! Nós, deste lado do Atlântico, portugueses, somos um povo de sofrimento com um fado de património mundial, por isso… cantamo-lo. Entre um bom copo de vinho e um bom petisco, tudo há-de passar.

Na terra dos Blues, muitos defeitos se encontram. A escravidão agora é outra, por eles


também criada e cultivada, imposta pelas obrigações e especulações que nos sufocam. Como em muitas coisas, são também nos defeitos, os melhores do mundo. Mas não quero agora ir por aí, antes pelo contrário. Na terra das oportunidades, a terra prometida, marcada pelas bandeiras, foi desde logo o prémio da conquista a galope. Um quinhão de terra agarrado por quem, talvez nada tivesse, noutro país, noutro continente, para lá foi, não resignado, à luta pela felicidade e fortuna. Um espírito empreendedor multirracial e cultural, por vezes nada digno, como com os escravos africanos. O celeuma do presidente tem fundamento, Barack definiu-se nos censos americanos como negro afro-americano. Filho de pai queniano e de mãe americana com ascendência principalmente inglesa mas também escocesa, irlandesa, alemã, galesa, suiça, francesa (ufa!) e ainda cherokee (fica bem). A personificação da mescla: Estados Unidos da América, o polícia do mundo.


Atravessando o oceano novamente, temos uma Desunião Europeia, de países soberanos. Carregados pelo peso de séculos de história, de povos, tribos, clãs, czares, reinos, etnias, religiões, impérios em competição (para não dizer outra coisa). Ligados à Ásia e África pela geografia e exploração, desligados pelo contraste e conflito. No nosso Estado, o português e nos outros europeus, o desemprego sobe, nos Unidos da América desce. Quando ouvi o Obama a cantar na TV, pensei "será que é por isto?" Não exactamente por isto, um pouco talvez, ou bastante pelo espírito que lhe está inerente. Na China ou na Índia, o emprego chega a ser desumano para quem trabalha arduamente nos componentes tecnológicos de americanos (e de outras potências é bom dizê-lo). Um Jerónimo, português (não o americano) expande-se pelo mundo e quer distribuir na América, primeiro a do Sul, depois, ambiciosamente, a dos Estados Unidos. Deixam-se conquistar e conquistam. E assim dominam o mundo.

Desenganem-se aqueles que pensam que um só povo, por mais estupidamente numeroso que seja, também o conseguirá fazer. A história tem-nos provado o contrário. Nazis, nopoleónicos, persas, muçulmanos, cristãos ou romanos que o digam. Isto só pode ser controlado por todos e não apenas por uns! E os todos, são sem dúvida, os EUA. Uma teoria como outra qualquer, da conspiração dirão eles.

Os fluxos cruzam fronteiras sem limite geográfico. Na informação, no amor, no conflito, na economia, na dor, no sofrimento e na alegria. No fundo e desde sempre, apesar de diferentes e distantes, somos todos o mesmo. Formatados com moldes diferentes que nos levam necessariamente por caminhos diferentes. Tudo isto é global. Somos um só desde há muito, só que agora a grande velocidade. A tanta, que conhecemos tanta gente e ao mesmo tempo, ninguém. Cruzamo-nos com tantos, na rua, que sabemos conhecer… só não sabemos de onde.

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