domingo, 15 de abril de 2012

MAC - o berço do país

A MAC é o berço do país. Não confundir com o facto de Guimarães ser o berço da nação. Não se trata de nenhuma ataque anti-regionalista, são coisas diferentes. A MAC é o berço de Portugal!

A MAC é vida. Fechá-la é morrer. É matar um pedaço de Portugal. É dispersar e perder conhecimento acumulado de valor incalculável na ciência de fazer nascer, dar vida e oferecer paternidade. A MAC é também sinónimo de justiça e pluralidade social. Todos nascemos iguais, ou devíamos, quanto mais não fosse na possibilidade de acesso a cuidados de assistência médica com segurança e qualidade.

O nascimento é um elemento fulcral da sociedade. Contribui para o equilíbrio da pirâmide demográfica e numa altura em que se fala tanto na sustentabilidade da segurança social, congelam-se as reformas antecipadas a montante e cortam-se nos nascimentos, a jusante. É claro que este corte é insignificante em termos quantitativos, mas como se já não bastasse a falta de política de incentivo e apoio à natalidade, não deixa de ser mais uma machadada. Mesmo que simbólica e moral. Apesar de não conhecer os números, simbólica deverá ser também a poupança de despesa que justifica este fecho. Ou o ganho na rentabilização do aproveitamento dos serviços de parto e neonatologia de outros hospitais. Ora, sendo simbólico, de certo não o será a dispersão, logo perda, de conhecimento de valor inestimável, como já referi. Nascer não é como arrancar um dente, por muito amor que se tenha a um dente. Nascer é sim, o expoente máximo de um acto de amor! Com todo o sofrimento, emoção e responsabilidade que acarreta. Então porquê fechar? Privilegie-se pelo menos desta vez o que é genuíno, nosso, tradicional, cultural, cientifico!


Fechada, a MAC fica um belo e imponente edifício vazio. Como muitos do Estado que se encontram ao abandono e são agora encarados como mais uma das inúmeras fontes de receita, esgotável e imediata de mais uns grãos de milhõezinhos de euros provenientes da sua alienação. Interessados não faltarão. Excelente localização, apetecível para um hotel, ou motel mesmo. Mantém-se o nome, MAC, apenas se altera o significado do primeiro “M” para Motel e se recua um pouco na cadeia de fabrico do ser humano. Deite-se abaixo e construa-se um belo condomínio de luxo, à prova de crise e rapidamente vendido! Aproveite-se a sua projeção arquitetónica original de templo, o seu cariz sagrado e de veneração após o fecho, e transforme-se numa atração peregrina. Um museu com visitas guiadas para gerações futuras ou nele nascidas. Aproveite-se e façam-se outros museus de outras instituições. Favorece-se o turismo com um slogan para promoção: “Portugal o país museu”. Até que deixamos de ter interesse e mais ninguém nos quer visitar. Fechamos os museus e fechamos o país. Mais não temos.

Fechada, ficam por lá as paredes e a alma de outros tempos. Os corredores vazios, quartos abandonados, consultórios fantasma. Fecham-se os olhos e apenas assim se conseguirá ver a agitação dos enfermeiros, se perceberá o nervosismo de um pai que espera, se ouvirá o grito e se sentirá a força sobrenatural de uma mulher que pare… o choro de um bebé que agarra a vida. E um berço.

O berço Guimarães, foi-o em tempos. De batalha, conquista, sangue e morte. Nasceu à bruta e sem cuidados, uma nação. De uma só vez. Portugal nasce e renasce todos os dias. O berço da nação, teve a usa importância naquilo que somos hoje. O berço de Portugal foi sendo e é a evolução do nascimento, mas aos poucos parece que vamos regredindo até aos tempos medievais. Até deixarmos de ser um país, de existirmos, de ter um local onde nascer. Paisagem deserta, onde no silêncio adamastor de montes, vales, nuvens carregadas e céu cinzento, apenas ecoa o ressoar do vento pelo mato, como um último suspiro, onde em tempos houve vida.

Abram-se os olhos. Feche-se a janela. Apague-se a luz. Mas não se feche a porta.

1 comentário:

  1. Com vinte anos tive lá a primeira filha. A seguir um filho e passados quase dezanove anos de novo uma menina veio fechar a porta.
    Há três meses, nasceu lá o primeiro neto!
    Tenho muito gosto em ser uma mulher que não contribuiu para a baixa da natalidade e consequente envelhecimento!!!
    Sentia orgulho quando noticiavam que a MAC era uma das melhores da Europa e a melhor do nosso país.
    Agora...porquê?
    Não haverão muitos e muitos mais sitios onde cortar???
    Há com toda a certeza!!!
    Que renegoceiem as PPP's onde estão incluídos os hospitais privados (Loures por exemplo) e deixem tranquilas, as mães coragem deste país, que querem dar á luz na MAC.
    Manuela Mendes

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