quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Live at London

Ainda os jogos. Já se sabia que os ingleses têm a mania de serem diferentes. Fizeram questão de o mostrar mais uma vez nestes olímpicos. Prova disso foi a cerimónia de abertura, mas principalmente a de encerramento. Não sei agora precisar quanto, mas com orçamento bastante inferior ao da última edição, a faraónica de Peqim, os britânicos não se deixaram passar despercebidos e não fizeram cerimónia. Fizeram sim, uma grande cerimónia.

O ponto alto foi, com toda a certeza (pelo menos para mim), a ressurreição de Freddie Mercury em pleno estádio olímpico para a reedição interativa do “Live at Wembley”. Momento genial! Quem imaginaria voltar a ver e ouvir, a sentir, um estádio inteiro a acompanhar em uníssono esse ícone musical com os famosos “dirórês”? Melhor, não poderia ter resultado. Qualquer apreciador de música ao vivo e de todo o espetáculo subjacente terá desejado estar presente. Brian May um monstro da guitarra, bem vivo, revigorou “We will rock you”, tema já de si bem pujante, num excelente dueto com a bela Jessie J. O desfile de ídolos não se ficou por aqui. Pode-se até dizer que foi a cerimónia do prefixo “re”. Reaparecimentos de John Lennon e dos Beatles (Paul McCartney na abertura), David Bowie, George Michael, The Who, Annie Lennox, Pet Shop Boys, Pink Floyd. Reavivar e relançamento de Artic Monkeys, Kaiser Chiefs, Jessie J… e o rejuvenescimento das maduras, mas sempre picantes Spice Girls.

Não foi preciso inventar muito, bastou usar o que já estava inventado. Com tanta matéria-prima, o trabalho de qualquer realizador, encenador ou coreógrafo, restringe-se à tarefa de gestor de alinhamento. Simples, mas boa música, requinte e bom jogo de luzes: sai uma cerimónia e um espetáculo grandioso.

Foram os britânicos a exibirem o que de melhor a sua cultura tem exportado ao longo dos últimos 50 anos. E quer se queira, quer não, também através da cultura lá estiveram os genes portugueses, com sotaque brasileiro na passagem de testemunho para 2016.

(Como não consegui comprar os direitos de imagem, ficam os links: Queen - http://www.youtube.com/watch?v=YzoyDILKlhY; Spice Girls - http://www.youtube.com/watch?v=PArTdhNda7k)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Correio do leitor

As secções jornalísticas destinadas à correspondência dos leitores causam-me algum desconsolo. Em nome da poupança de espaço, cortam e truncam o que lhes apetece. No fundo praticam austeridade literária. E nesse sentido, sinto-me lesado, pois a minha, boa ou má, não deixa de ser literatura. É por isso que reclamo um artigo publicado, mas num espaço condigno, sem censura e com relativo destaque. É ambicioso e presunçoso? Sim. Mas apetece-me reclamar os meus 15 minutos de fama. Que serão apenas algumas dezenas de segundos, não mais do que o tempo que demora a ler um texto como este.

Por ventura estarei a ser demasiado pretensioso. Afinal de contas, não tenho qualquer formação superior que me confira qualquer credibilidade para, de repente, querer publicar um texto. Mas antes desabilitado do que com uma licenciatura “relvaticamente” formada. Ou forjada. Bem sei que vivemos numa selva em que vale tudo. Mas eu estudei, trabalho, desconto e na velhice a única certeza que tenho é a de que a reforma será uma miragem. A mesma reforma que outras ervas daninhas adquirem em meia dúzia de anos no parlamento. As tais subvenções criadas pelo Cavaco para compensar os que servem o país, pelas oportunidades profissionais perdidas no tempo de desgovernação. Vá lá que o Sócrates estava atento e acabou com isso. Terá sido o assumir que afinal a governação não fecha portas, abre sim os gabinetes de grandes empresas. As mesmas onde se começa a pagar e procurar mais um serralheiro ou um carpinteiro, do que um arquiteto ou um engenheiro. Isto assim escrito, até teria alguma piada, mas não tanta, ao ponto de arrancar gargalhadas daquelas que permitem aos novos famosos, os palermas dos comediantes, terem colunas em tudo o que é revista e jornal.

Ora então, se hoje em dia se fazem licenciaturas instantâneas, que não servem para nada pois precisam-se é de ferramentas, não de canudos, se qualquer palerma publica num jornal e se cada vez mais se reclamam oportunidades, então eu também quero! Não que escreva maravilhosamente bem, mas isso até pode ser requisito. Escrevo o que me vem à cabeça e tento transmiti-lo genuína e arcaicamente na melhor forma. E não me deem secções de correspondência ou do leitor. Eu nem sou grande leitor. Muitas vezes não tenho paciência, leio as gordas e tento ficar com uma ideia. Ler, vale a pena, mas tem que haver disponibilidade mental e assimilação de qualquer coisa. Ler, só por ler, sem entrar nada é que não. É por isso que fico por aqui.

sábado, 11 de agosto de 2012

Escravos olímpicos

Os até agora resultados dececionantes dos atletas portugueses, beliscam o orgulho dos seguidores dos entusiasmantes jogos olímpicos. Neste caso os de Londres. Para os adeptos do desporto, os jogos são uma grande festa. Variedade de modalidades, horas e horas de competição, espetáculo e recordes para bater na concretização infalível de 4 anos de espera.

Invariavelmente aprendemos a ver os jogos de uma forma menos tensa, mais lúdica, pois já não esperamos grandes feitos nacionais. Falta de preparação, de atitude, de apoio, demasiada pressão, um dia mau, várias são as justificações. A verdade é que fomos ficando para trás. Edição após edição, os resultados evoluem, a competição é mais feroz e uma medalha que se pode ter apenas de 4 em 4 anos é disputada a um nível elevadíssimo. Os jogos, que têm a sua sustentação num espírito olímpico são cada vez mais o espelho de capacidades super-humanas. O esforço que é empreendido por um atleta na preparação dos jogos começa a atingir níveis que desafiam o limite da capacidade humana. Capacidades sobre-humanas. Fará sentido dedicar toda uma vida por uma medalha? Toda uma vida parece exagero, mas o que inicialmente são 10 ou mais horas de treino diário durante a infância, adolescência e juventude, são no futuro horas perdidas ou não ganhas numa infância, adolescência ou juventude que não se vivem outra vez, e onde não se viveu o que se devia ter vivido. E sabemos como marcam estas fases, a vida. Irrecuperável e sem preço. Por representação de um país, a troco de uma bolsa incerta e glória efémera. Nalguns países, os mais desenvolvidos, um atleta que se compromete física e espiritualmente durante anos para alcançar a glória, até terá o seu futuro garantido. Phelps foi transformado de criança hiperativa no mais medalhado de sempre, à porta dos 30 anos deixa as piscinas e de certo a América lhe dará uma ocupação, mas qual será o futuro das jovens ginastas chinesas e de toda a quase totalidade dos atletas que não ficam na história? As capacidades são afinal desumanas.

Os portugueses não conseguem nenhuma glória. A prata dourada na canoagem é a exceção que confirma a regra. Sem dúvida um grande feito, a modalidade menos financiada alcança o melhor resultado. Talvez até Portugal conseguisse algo mais se houvesse um maior comprometimento e esforço de todos os envolvidos. Mas se calhar é melhor mantermo-nos assim. Normais. O desporto é suposto ser são.

Os jogos necessitam de um reset. Escravos eram os gladiadores nos jogos do coliseu de Roma.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O meu primo Carlos


Ligou-me há um mês atrás para me dar os parabéns. Do Indiana. Estava calor, vários fahrenheit, que só por si já são muitos. “Em Chicago é que é bom”, acrescentou. Que grande maluco! O que virá a seguir? “Estou no Alabama! Aqui no faroeste do Colorado é uma autêntica torreira”. Imagino-o nos desfiladeiros, dos filmes de cowboys que víamos na infância. A esta distância, agora percebo que logo nessa altura, o mundo poderia ser pequeno para o irrequieto Carlitos. Eramos como irmãos. Para mim também um melhor amigo. Fazíamos coisas de putos, normais da idade. Com as raparigas sempre foi mais afoito. Mas agora refiro-me aos espalhanços de bicicleta, aos carros de rolamentos, aos piões. Partilhas e cumplicidades. Algumas bem parvas, como escondermos um ramo de cabeças de alho nos sacões de papelão de dezenas de pães que os nossos pais nos encomendavam para o café.