O que têm sido as nossas vidas? Até há pouco tempo atrás, Portugal
era um país bom para viver. Os que pouco ou muito pouco tinham, iam-se safando,
os que tinham alguma coisa, safavam-se e os que tinham muito safavam-se à
grande. Até os que lá fora nada tinham para cá vinham. Agora fogem para os seus países
e nós para os deles. Os que têm muito já partiram, os que têm alguma coisa,
perspetivam cada vez menos e são forçados a ir, os que pouco têm, arriscam-se a nada ter e, são cada vez mais os que nada têm. Dizem-nos
agora que vivíamos acima das nossas possibilidades. Após o último auxílio do FMI
ao nosso país, há sensivelmente 30 anos atrás, seguiu-se a entrada na CEE e desde
então foi sempre a subir. Vertiginosamente, sem olhar para trás, nem para a
frente. Fomos inundados por uma onda de benefícios e facilidades, que naturalmente
aproveitámos sem grande orientação ou caminho definido. Subsídios, fundos,
créditos e apoios. Para gastar. Sem estratégia de ninguém. Cidadãos ou Estado.
Todos comeram! Agora a vaca secou, mirrou (pelo menos
para alguns) e pior exibe-nos a conta, percebemos que temos sido enganados e
iludidos por facilidades aparentes e perniciosas. Antes do FMI em 1983, vivemos
a pós-revolução com o desnorte e dificuldade normal de quem se liberta do
totalitarismo, de uma ditadura autoritária e repressiva, espelho da falta de liberdade
e condições dignas para viver. Antes disso as perturbações das primeiras
repúblicas. Não tínhamos as nossas vidas, como não as temos agora.
A vida que vamos ter nunca a tivemos. Vasco Pulido Valente escrevia hoje no Público, sob o título “Ano
II da era da crise”. Da minha curta existência, para mim será o ano 30 e qualquer
coisa da era da ilusão. O que tentamos ver pela frente chega em forma de ajuda
tripartida com um custo indecente de pobreza somado de juro nada solidário, que só nos afundará mais. As alternativas
que poucos nos sabem explicar, apontam para a renegociação de dívida rompendo
com os que nos amarram, mas aumentado o risco de bancarrota. Que aliás nos tem
acompanhado ao longo da história. O que
custa é olhar para trás, mais até do que para a frente, e perceber que afinal
raramente tivemos verdadeiramente as nossas vidas. Mais do que as nossas
vidas queremos um rumo, uma identidade de futuro que não o imediato. A navegação
à vista, deu resultado nos descobrimentos, há 500 anos atrás. E já aí demonstrávamos arte, engenho, competência, coragem.
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