terça-feira, 22 de maio de 2012

Taça de Ouro Negro

O Cavaco não foi ver a final da Taça. Algo de muito importante e de interesse extremamente superior deve ter ido fazer, para que, um país que vive de futebol e tem na festa do Jamor um dos dias mais importantes do ano, se veja privado do chefe maior da nação. Como se não bastasse, seguiu em sua substituição a segunda figura mais importante do Estado. Um acontecimento de primeira, não pode ter um representante de segunda! E para quem andar mais distraído, a segunda figura não é o Passos (a figura dele é outra, a da chacota). A segunda figura é antes uma mulher, sem desprimor para o sexo feminino que cada vez mais vive efusivamente o futebol, a chefe da Assembleia da República que lá fez o frete de não entregar a Taça aos leões e aprová-la aos briosos estudantes coimbrões de negro.

De negro estará o Cavaco em Timor a tentar encher a taça das influências e das relações internacionais. De milhões do fundo do petróleo que, em 10 anos, fizeram de Timor devedor a potencial credor de Portugal. Assim o admitem os seus dirigentes e o confirma o nosso presidente, embora que disfarçadamente. Mau disfarce de uma campanha publicitária do bom investimento que é a dívida portuguesa. Podia-se ter levado um spot da pêra rocha, da maçã bravo de Esmolfe, do azeite galo, do mais recente tinto campeão do mundo, da tecnologia, do tomate cereja ou da própria cereja. Mas não, publicitou-se dívida. Refletindo melhor, publicitar produção nacional da boa, para quem comprar? Uma população, em que metade vive a baixo do limiar de pobreza, sendo que a outra metade não deve andar muito acima? Talvez até faça sentido promover dívida.


domingo, 20 de maio de 2012

Voltar à terra

publicado no Público de 11 de Agosto de 2012
 

No sentido literal para os astronautas em órbita, no sentido figurado para os que andam com a cabeça na lua, no sentido economicista de última alternativa de fuga às dificuldades e de procura de uma vida melhor e, no sentido lúdico, fraternal e migratório do retornar à província de pais e avós.

Em órbita nunca andamos, ser astronauta é só para predestinados. Se não andarmos com a cabeça na lua, não temos como aguentar os pés assentes no chão. E, ir à terra passear passou a ser um luxo. A não ser que se vá pela nacional, devagarinho, a contemplar os caminhos de outros tempos, no dobro do tempo. Com curvas e contracurvas. Montanhas e  escarpas. Currais, casas e animais. Pinhais, chaparrais, olivais e vinhais. Rectas, planícies, cultivos e colinas. Rios e riachos que seguem o seu curso, sem parar. Como a vida, que foi indo e tristemente deixou a terra abandonada. Às silvas, como temerosamente alertavam os avós.