sábado, 11 de agosto de 2012

Escravos olímpicos

Os até agora resultados dececionantes dos atletas portugueses, beliscam o orgulho dos seguidores dos entusiasmantes jogos olímpicos. Neste caso os de Londres. Para os adeptos do desporto, os jogos são uma grande festa. Variedade de modalidades, horas e horas de competição, espetáculo e recordes para bater na concretização infalível de 4 anos de espera.

Invariavelmente aprendemos a ver os jogos de uma forma menos tensa, mais lúdica, pois já não esperamos grandes feitos nacionais. Falta de preparação, de atitude, de apoio, demasiada pressão, um dia mau, várias são as justificações. A verdade é que fomos ficando para trás. Edição após edição, os resultados evoluem, a competição é mais feroz e uma medalha que se pode ter apenas de 4 em 4 anos é disputada a um nível elevadíssimo. Os jogos, que têm a sua sustentação num espírito olímpico são cada vez mais o espelho de capacidades super-humanas. O esforço que é empreendido por um atleta na preparação dos jogos começa a atingir níveis que desafiam o limite da capacidade humana. Capacidades sobre-humanas. Fará sentido dedicar toda uma vida por uma medalha? Toda uma vida parece exagero, mas o que inicialmente são 10 ou mais horas de treino diário durante a infância, adolescência e juventude, são no futuro horas perdidas ou não ganhas numa infância, adolescência ou juventude que não se vivem outra vez, e onde não se viveu o que se devia ter vivido. E sabemos como marcam estas fases, a vida. Irrecuperável e sem preço. Por representação de um país, a troco de uma bolsa incerta e glória efémera. Nalguns países, os mais desenvolvidos, um atleta que se compromete física e espiritualmente durante anos para alcançar a glória, até terá o seu futuro garantido. Phelps foi transformado de criança hiperativa no mais medalhado de sempre, à porta dos 30 anos deixa as piscinas e de certo a América lhe dará uma ocupação, mas qual será o futuro das jovens ginastas chinesas e de toda a quase totalidade dos atletas que não ficam na história? As capacidades são afinal desumanas.

Os portugueses não conseguem nenhuma glória. A prata dourada na canoagem é a exceção que confirma a regra. Sem dúvida um grande feito, a modalidade menos financiada alcança o melhor resultado. Talvez até Portugal conseguisse algo mais se houvesse um maior comprometimento e esforço de todos os envolvidos. Mas se calhar é melhor mantermo-nos assim. Normais. O desporto é suposto ser são.

Os jogos necessitam de um reset. Escravos eram os gladiadores nos jogos do coliseu de Roma.

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