sábado, 8 de setembro de 2012

Pesadelo

Acordei e não era um pesadelo. Fui-o comprovando na rua, na padaria, no café, na papelaria, na praia onde o sol teimosamente se descobriu no nevoeiro. As pessoas estão tristes e revoltadas, a pobreza ainda não é total e absoluta mas está prometida e novamente anunciada. A esperança é crescentemente vã e desvanecida, tal como o horizonte que não se vislumbra na névoa e se mantém encoberto na austeridade das políticas que nos impõem e tolham.
Ontem o dia estava quente e húmido, estranho e desajustado de um período de retoma de atividade após época de férias. O país consome-se nas notícias e nos incêndios devastadores. O BCE até vai começar a comprar ilimitadamente a dívida e as bolsas subiam como já não era hábito. Presságio e engano. O primeiro-ministro ia falar ao país meia hora antes do jogo de Portugal no Luxemburgo. Finalmente seria conhecido o tão aguardado resultado da avaliação do 5º exame da troika. O otimismo e esperança pessoais foram praticamente desfeitos com o pré-anuncio de austeridade e a desconfiança dos exames de 2ª época, que nunca foram de fiar. O resultado ouvi-o então na rádio. Falou, anunciou, destruiu. Uma terrível machadada! Aos euros de roubo no ordenado somaram-se a descrença, o desânimo, a desmotivação, o desacreditar. Calou-se, 5 minutos de análise dos comentadores e, chega. Pois a bola já rolava. Uma volta completa pelas frequências radiofónicas e nada de austeridade: música para alegrar e o relato para distrair. Golo dos amadores luxemburgueses, sobre os tristes burgueses de Portugal. Só podia ser pesadelo! Será que a troika encena tudo isto?

O pesadelo temo-lo vivido, não ontem, mas nas últimas décadas. Só que em forma de sonho. Que pior do que viver na ilusão, no engano de uma falsa prosperidade, governados pelas mentiras, más políticas e oportunismos de uma classe e sistema orientados por interesses de uma minoria que quer controlar e manipular em seu benefício? E assim continuamos com remendos, ou remédios austeros num sistema económico e financeiro mundial obsoleto e disfuncional. Equidade entre empresas e trabalhadores, só nos ideais supostamente utópicos do comunismo. Equidade numa taxa igual, transversal e cega para todos, só em teoria, na prática sem solidariedade. Equidade só se for no aproximar dos salários baixos ao desemprego.

Temos que acordar!

PS: No meu pesadelo que foi bem real, ainda antes do pré-anuncio fui multado e bloqueado pela EMEL numa brincadeira de 90 euros. O que, vistas bem as coisas é um mal menor, mas que contribui para a depressão final. Mais um exemplo de como muitos males menores, se assumem cada vez maiores e nos vão deitando a baixo...

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